caracol

Do igapó onde vivia, o caracol Itagiba olhava a cidade grande e sonhava que um dia deslizaria pelas ruas da Capital e lá fixaria sua moradia.

Quanto mais o caracol Itagiba se esforçava, mais lhe parecia que o charco era mesmo o lugar de sua habitação.

Itagiba olhava ao seu redor e admirava os passarinhos que iam para todos os cantos com seu vôo ligeiro; invejava a borboleta deslizando ao sabor do vento e pousando onde queria; como desejou ser igual ao urubu que, do alto, escolhia para onde se dirigir – um lugar diferente do atoleiro, próximo ou distante.

Desejava ardentemente ser como um desses amigos, pois os tinha como mais afortunados porque saiam em busca da felicidade e a encontravam onde iam, então Itagiba concluiu que jamais seria feliz se continuasse morando no atoleiro, mesmo em um só lugar, ele precisava migrar até encontrar a sua felicidade.

Encheu-se de coragem e fez a primeira viagem. As paisagens por onde passava lhe causavam admiração, tudo era mais lindo que o atacasdeiro de onde saíra; o sistema moderno de transporte individual ou de massa eram rápidos, seguros e confortáveis. As rodoviárias, portos e aeroportos mantinham-se continuamente lotados porque todos desejavam estar em locomoção para outras plagas e, cada um narrava com detalhes a história do lugar de por onde passou.

Para Itagiba cada relato chegava como um estímulo para se deslocar cada vez mais para adiante, ele queria ser igual aos viandantes. O caracol nunca mais ficou satisfeito em estar no mesmo sítio por muito tempo, sempre via lugares mais bonitos que eram verdadeiros paraísos para se morar, e ele sempre priorizava o conforto e segurança. Se os outros moram bem eu também possuo esse direito, dizia o caracol.

Tanto mudou de sítios que, para maior conforto, resolveu atrelar sua casa às costas e, momentaneamente sente-se feliz no ambiente escolhido mas, logo está à procura de outro lugar onde possa ficar. E… lá vai o caracol Itagiba levando sua casa nas costas procurando outro lugar!

_____ Na Bíblia Sagrada um homem chamado Caim, após a prática do primeiro homicídio ouviu o decreto divino de que a terra não lhe daria mais sua força, ele não mais estaria feliz no seu lugar, nada lhe agradaria então ele repetiu o seu destino: “serei fugitivo e vagabundo na terra” (Gênesis 4:14).

Muitas pessoas, até hoje, parecem ter que viver da mesma forma que àquele Caim. Nunca estão satisfeitos com o que possuem, jamais permanecem em um lugar só, e desejam sempre mudar de uma para outra banda, dependendo da boa vontade dos outros, sejam parentes ou não.

 

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